sábado, 21 de julho de 2018

Investir em empresas que não estão na bolsa



Existe um tipo de investimento que muitos não levam em conta na hora de aplicar suas economias, e que, talvez, seja mais rentável que os tradicionais, porém um pouco arriscado.

Estava assistindo um programa chamado Shark Tank. Trata-se de um programa em série, onde empreendedores mostram suas ideias/diferencias para potenciais sócios investidores com o intuito de captar recursos para alavancar a empresa, e em contrapartida oferecem um participação no negócio. Este formado teve origem nos EUA, mas já se encontra disponível uma versão brasileira. Os potencias investidores convidados são grandes empresários já consolidados com uma vasta gama de conhecimento e dinheiro. A dinâmica do programa é simples: o empreendedor apresenta o produto ou serviço, a proposta de investimento e os dados contábeis da empresa, e a partir daí os "Sharks" vão fazer as propostas ou então dizer que está fora do negócio.

É um programa bastante construtivo e educativo, pois podemos compreender o raciocínio dos grandes empreendedores, onde, por exemplo, o bom negócio tem que ser inovador, escalável, franqueável, sustentável,  ter uma grande barreira de entrada e outros.

No programa do Brasil, tinham negócios dos mais simples aos mais complexos, e é claro, não podendo deixar de existir as ideias absurdas. Podemos perceber que muitas pessoas estão ganhando dinheiro com coisas que não imaginávamos, com um investimento inicial possível para a maioria dos educados financeiramente. E, ainda sim, esses empreendedores estão em busca de sócios para expandir ainda mais seu projeto através da captação de recursos e ideias.

É bem verdade que um dos papéis das Bolsas de Valores é facilitar a captação de recursos junto aos investidores, porém os custos altos para listar na bolsa e a burocracia se tornam pontos proibitivo para uma empresa que está nos primeiros anos de funcionamento. A bolsa também trás segurança, pois existem uma série de exigências como auditoria, exigência de emissão de relatórios periodicamente e etc. Entretanto, isso não afasta totalmente casos de maquiagens nos relatórios contábeis, pois onde há pessoas com interesses e possuidoras de grandes volumes de capital pode acabar corrompendo o sistema para atender as suas necessidades. E isso já aconteceu em uma das maiores bolsas de valores, e há possibilidade de ainda está acontecendo.

Na NetFlix tem um documentário chamado The China Hustle que trata das manobras financeiras fraudulentas, onde empresas ruins apresentavam resultados bons através dos seus relatórios, e estes eram validados por empresas de analise de classificação que recebiam altas quantias para mascarar a real situação. Além do mais, existiam outras simulações de operações ilegais também. Assim, investidores eram induzidos a adquirir determinada ação face os números apresentados e quando a fraude foi descoberta, o prejuízo foi certo. Na maioria dos investimentos na bolsa, o investidor sequer tem contato com a empresa, mantendo uma relação na base da confiança. Se bem que, qualquer negócio quando toma uma dimensão maior, nem mesmo o dono de uma empresa LTDA tem o controle total de tudo que acontece na companhia.

Por outro lado, temos inúmeras empresas de menor porte que não estão na bolsa de valores e necessitam de investimentos para expandir. As formas que elas captam recursos são através de empréstimos ou ingresso de um novo sócio. Como alguns projetos são embrionários, ou seja, não entraram em operação ou têm pouco tempo, fica difícil apresentar dados financeiros suficientes para conseguir do banco uma linha de crédito que tenha como garantia a capacidade de pagamento e os bens da empresa. E analisando, ainda que tenha, os juros se tornam desestimulantes, sem contar que um dinheiro emprestado e não pago, o banco toma os bens da empresa. Ou seja, o banco não divide o risco do negócio!

No que tange a captar um sócio, esse sim assume o risco tanto de dar errado quanto de dar certo, e, em ambos os casos, se responsabilizariam proporcional ao capital investido. Esse é o preço a ser pago em dividir em sociedade. É uma gestão de risco tanto para o fundador quanto para o sócio investidor. Outro quesito a ser analisado, é a obtenção das informações contábeis confiáveis da empresa. O sócio investidor que vai ter que buscar mecanismo para identificar se aquilo é real.

No programa Shark Tank os empresários apresentavam alguns dados interessantes que nos faz refletir sobre os nossos investimentos tradicionais. Percebemos que em média um negócio obtém um lucro líquido de 10% a 20% do faturamento bruto. Claro que vão existir casos em que essa margem será bem menor. Pelo menos no programa a grande maioria variavam 10-20. O Payback (tempo de retorno do valor investido) quando era mais de 5 anos, os Sharks (potenciais investidores) reclamavam que era um tempo longo. Isso me fez comparar com uma das ações que eu tenho, como por exemplo ITUB3, com P/L de aproximadamente 10. Então estou em um investimento que se tudo se manter ano a ano, irei recuperar meu dinheiro investido em 10 anos. Sei que tem a valoração das ações. Para os padrões das empresas que não estão na bolsa isso seria muito tempo, pois a média de rentabilidade é de aproximadamente 3% a.m ou 26% a.a. O yeld (dividendos) da ITUB3 quando olhei estava de 7% a.a.

Talvez isso se deva ao fato de que os preços das participações nas empresas LTDA estejam mais próxima do seu valor. Algumas ações na bolsa chegam a bater P/L maior que 50 devido a especulações. É um mercado altamente sensível a decisões presentes que talvez nem sequer surta efeito a médio/longo prazo.

Com uma empresa menor isso não ocorre! Ela não serve como instrumento especulativo. O investimento se torna mais concreto e sócio pode acompanhar de perto. Dá para verificar o faturamento e as margens de lucros. O preço de venda não vai cair da noite para o dia, tampouco valorar! Caso queira, pode sugerir ideias para melhorar a gestão da empresa. Ela está mais próxima da realidade dos investidores pequenos. O risco de dar tudo errado aqui é bem maior, mas o retorno do investimento é proporcional ao risco envolvido. Por isso o retorno é um pouco maior. Assim sendo devemos ter cautela e avaliar bem os negócios.

É muito difícil participar de um negócio apenas como sócio investidor, e mesmo sendo somente investidor, haverá alguma atividade ou problema a ser resolvido, e o sócio terá que assumir essas responsabilidades, afinal de contas , parte da empresa é dele.

A pergunta que fica é: até que ponto é mais vantajoso investir em empresas da bolsa em detrimento das empresas menores?




Um comentário:

  1. Isso que vc descreveu é o investidor anjo. Acho muito arriscado para um leigo, nada vantajoso pra quem tem pouco capital.

    Abraço!

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